sexta-feira, 10 de agosto de 2012



Apresentamos um Dossiê sobre um dos maiores multiartistas da história, com os seguintes textos: Theo van Doesburg: o multiartista holandês I e II, Mundo infantil, poema de Theo van Doesburg, e Trabalhos de Theo van Doesburg. Convidamos para a leitura.

Nicole Cristofalo
André Dick
Theo van Doesburg: o multiartista holandês (I)

Por André Dick

O multiartista Theo van Doesburg nasceu Christian Emil Marie Küpper, em 1883, numa família de artistas em Utrecht. Fundou, em 1917, ao lado de Piet Mondrian, o De Stijl (ou Neoplasticismo), com raízes no Cubismo e na Arte Abstrata. Mondrian ficou mais conhecido, mas Van Doesburg é um artista mais completo: pintor, artista plástico, editor, arquiteto, designer e, uma faceta menos conhecida, poeta.


É citado na Teoria da Poesia Concreta, no ensaio “Evolução de formas: poesia concreta”, de Haroldo de Campos, que afirma: “Refira-se que Kandinsky, na esteira de van Doesburg, Arpp e Bill (1930/1936), começou em 1938 a chamar sua pintura de concreta”. Haroldo também escreveria sobre ele em “Theo van Doesburg e a nova poesia”, em 7 de julho de 1957, no Jornal do Brasil (artigo republicado em O segundo arco-íris branco). Van Doesburg é um dos precursores diretos da poesia concreta e de Max Bill.
O objetivo do movimento De Stijl era a criação de uma arte de vanguarda, procurando um equilíbrio. Os quadros mostravam linhas e retas essenciais e cores primárias, além de formas geométricas.
Segundo Van Doesburg: “A linha reta corresponde à velocidade do transporte moderno; os planos horizontais e verticais à manipulação mais sutil, ou às mais simples tarefas da vida e da tecnologia industrial”.
O movimento acabou por influenciar a arquitetura e o grafismo. Em 1921, Van Doesburg publicou a revista Mecano, em que revelava uma nova tipografia, sob o pseudônimo I. K. Bonset.


Também De Stijl transformou-se em revista, cujo editor, Doesburg, enviava os exemplares pelo correio.
No sexto tópico do Primeiro Manifesto do movimento, afirma:

VI. O objetivo da revista de arte De Stijl é apelar para todos aqueles que acreditam na reforma da arte e da cultura para aniquilar tudo o que impede o desenvolvimento, do mesmo modo que fizeram no campo da arte nova, suprindo a forma natural que contraria a própria expressão da arte, a consequência mais alta de cada conhecimento artístico (Fonte: Artetextos)

No quinto manifesto de De Stijl, afirma algo que seria recuperado pela teoria da poesia concreta, na estrutura espácio-temporal do poema:

II. Examinamos as leis do espaço e suas variações infinitas (isto é, os contrastes de espaço, as dissonâncias de espaço, os complementos de espaço etc.)., e descobrimos que todas essas variações do espaço devem ser governadas como uma unidade de equilíbrio.
III. Examinamos as leis da cor no espaço e na duração e descobrimos que as relações equilibradas desses elementos dão enfim uma unidade nova e positiva.
IV. Examinamos a relação entre o espaço e o tempo, e descobrimos que o aparecimento desses dois elementos através da cor produz uma nova dimensão.
V. Examinamos as relações recíprocas da medida, da proposição, do espaço, do tempo e dos materiais, e descobrimos o método definitivo de construí-los como uma unidade.
VI. Pelo rompimento da caixa fechada (os muros etc.) acabamos com a dualidade do interior e do exterior.
VII. damos à cor seu verdadeiro lugar na arquitetura e declaramos que a pintura separada da construção arquitetural (isto é, o quadro) não tem nenhuma razão de ser.
VIII. A época da destruição está totalmente superada. Uma nova época começa, a da construção. (Fonte: Artetextos)


Os concretos teorizavam: “POESIA CONCRETA: TENSÃO DE PALAVRAS-COISAS NO ESPAÇO-TEMPO”. Tratando da estética do De Stijl, Doesburg dizia que “esses meios plásticos universais foram descobertos na pintura moderna mediante o processo de consistente abstração da forma e da cor. Uma vez descobertos, surgiu, quase espontaneamente, uma plástica exata do puro relacionamento - e, assim, a essência de toda emoção que envolve a beleza plástica”.
Para eles, “o objeto da natureza é o homem, o objeto do homem é o estilo” e acreditavam que “a arte desenvolve forças suficientes para influenciar toda a cultura”.
Como observa Mel Gooding (em Arte abstrata), “a revista De Stijl certamente influenciou o desenvolvimento da arquitetura e do design modernistas. Geralmente ortogonal, retangular, com linhas retas nítidas e planos de cores primárias, e preto e branco, ela repudia o ornamento e insiste na unidade de materiais e formas”. Continua Gooding: “A pintura de Van Doesburg, Composição XXII [acima] de 1920, exemplifica isso, embora em algumas de suas pinturas anteriores ele tivesse usado rosas, verdes, púrpuras, assim como as cores primárias, e dois anos mais tarde viesse a adotar composições diagonais, que não só rompiam o equilíbrio estático da pintura ortogonal, mas também colocavam um termo à relação profissional com o mentor, Mondrian, que não podia aprovar um desvio do absoluto ortogonal. Composição XXII, diferentemente das pinturas de Mondrian de 1921 em diante, é criada inteiramente a partir de planos justapostos. Não há linhas divisórias pretas teoricamente capazes de movimento para a esquerda ou para a direita, ou para cima e para baixo: o efeito é de uma finitude absoluta, cada plano confinando com o próximo, como blocos de construção, de diferentes tamanhos, mantidos firmemente no lugar pela gravidade e pelas bordas emoldurantes. O achatamento desses planos é totalmente objetivo; eles não são nada mais nada menos que áreas retangulares de cor sobre a superfície”.


Para Van Doesburg, essa arquitetônica monumental da cor representava uma vitória “neocubista” especificamente holandesa sobre os “remanescentes da escola Picasso-Braque”. Ele admirava os jovens artistas da chamada Seção Dourada, que vira então em Paris, “que nos presenteiam”, escreveu ele, “com cor pura e modelo antitonal... em outras palavras, a batalha pela cor”. Ele também ficara impressionado com as ideias de Léger a respeito de uma “arquitetura policrômica” e com a obra do pintor-arquiteto Charles-Edouard Jeanneret, ou, como ele ficaria conhecido, Le Corbusier.
Em meados da década de 1920, Van Doesburg, segundo Gooding, “havia repudiado a observância estrita do eixo horizontal/vertical neoplástico como o princípio dominante da arte e da arquitetura. Em estreito contato com o brilhante pintor, tipógrafo e teórico da arquitetura russa El Lissitzsky e com outros construtivistas europeus, ele se envolveu diretamente em projetos arquitetônicos. Na verdade, em 1924 ele chegou a uma conclusão semelhante à dos produtivistas russos: que o verdadeiro lugar da cor [estava] na arquitetura... que pintura sem construção arquitetônica (ou seja, a pintura de cavalete) não tinha mais razão de existir. A despeito disso, ele continuou a pintar. Contracomposição XV [ver “Trabalhos de Theo van Doesburg”], de 1925, pode ser vista como um tipo de manifesto objetivo em favor de uma nova estética modernista, o elementarismo, que contrapunha ao dualismo ortogonal estático (horizontal = físico/vertical = espiritual) a dinâmica da diagonal (= movimento/energia). Esse modernismo vigoroso informou seus projetos para o café-cinema, na casa noturna Café Aubette, em Estrasburgo em 1926, que empregava diagonais elementaristas dramáticas como um movimento espacial bidimensional oposto à arquitetura ortogonal tridimensional. Os projetos nunca foram populares e os interiores foram destruídos em 1928, mas permanecem simbólicos de um aspecto importante do projeto De Stijl”.
Em 1922, Theo van Doesburg se mudou para Weimar, a fim de entrar na Bauhaus. No entanto, o diretor do estabelecimento não apreciava as propostas dele. Este, então, resolveu construir um centro de ensino perto da Bauhaus, onde ensinava os novos caminhos do construtivismo e do movimento De Stijl, acabando por influenciar os que se formavam em Bauhaus.


Em 1922, Theo e Nelly van Doesburg, Kurt Schwitters, Hans Arp e Tristan Tzara visitaram a Walter Dexel, em Iena, onde acontecia um Recital Dada na Associação de Arte de Iena. Acontecia, também, a “Noite Dadá”, organizada por Van Doesburg, na Associação de Arte de Iena, assim como na galeria Von Garvens, Hannover, em conjunto com Kurt Schwitters, Nelly van Doesburg e Tristan Tzara.
Entre 1922 e 1923, Kurt Schwitters, como lembra Karin Orchard (em Kurt Schwitters: o artista Merz), “em discussão com Theo van Doesburg [...], desenvolveu uma nova linguagem formal, inteiramente abstrata, que entretanto ainda trabalhava com materiais achados. O princípio da colagem permanece constantemente o elemento determinante da sua arte. As relações dos materiais utilizados entre si são agora, no entanto, de tipo puramente construtivo e abstrato”.
Em 1923, excursionou por cidades da Holanda com a “Turnê-Dadá”, “com Theo e Nelly na Doesburg e com Vilmon Huszár (10 de janeiro de 1923). Primeira noite no Círculo de Arte de Haia; em janeiro conferências em Haarlem, Amsterdã, Def, Bouis-le-Duc, Haia e Utrecht; em fevereiro em Roterdã, Leiden e durante a ‘Moderne Soirée” em Haia (Kurt Schwitters faz apresentação solo)”.
Como lembra Mário Faustino em “Outros dadaístas” (Artesanatos de poesia), Kurt Schwitters conta como ele e Van Doesburg lançaram Dadá na Holanda:

Como eu não sabia uma palavra de holandês, acertamos que eu demonstraria o dadaísmo logo depois que ele tomasse um gole de água (durante a conferência de Doesburg sobre Dadá). Van Doesburg bebeu e eu, sentado no meio da plateia, que me desconhecia, de repente começou a latir furiosamente. Os latidos nos garantiram uma segunda noitada em Haarlem: na verdade vendemos todos os assentos, pois estavam todos curiosos de ver van Doesburg tomar um gole-d’água e de ouvir-me súbita e inesperadamente latir. Por sugestão de van Doesburg, deixei de latir nessa ocasião. O que nos garantiu mais um sarau em Amsterdã; dessa vez a plateia foi literalmente arrastada do auditório, uma mulher ficou tão convulsionada pelo riso que durante quinze minutos manteve a atenção do público, e um cavalheiro fanático, num casaco tecido em casa, urrou profeticamente o epíteto “Idiotas” à multidão.


Com Kurt Schwitters, Van Doesburg realizou também o livro O espantalho (1912), em que figuras tipográficas ganhavam formas humanas (nada a ver com diluições posteriores, ou seja, muito mais complexas). E, em 1925, publicou Die Scheuche, Märchen (O temor, contos de fadas), em colaboração com Käte Steinitz e Theo van Doesburg. Nesse mesmo ano, a mulher de Theo, Nelly van Doesburg, realiza um recital (piano) em Potsdam, na casa da senhora Kiepenheur.
Em 1921, Van Doesburg publicou seus primeiros poemas e textos em De Stijl. “Volle maan” (1913) é seu primeiro livro. Nesse livro, temos o poema “Vollmond”, cuja tradução, de Mário Faustino, segue abaixo:

LUA CHEIA

Fujo da cidade.
Estico a vereda.
Procuro os caminhos campestres.
Procuro a lua.
Procuro-me a mim mesmo.
Talvez me encontre.

Lá pela esquina.
Lá o caminho.
Lá está o feno em montes
Lá com minha alma
ao mesmo tempo
quero correr sob o sol da lua.

É uma casa?
Era uma casa
agora é carbúnculo
é uma granja?
era uma granja
Agora é claro e escuro
Será por acaso Feno?
Será por acaso Feno?
Feno foi pela manhã,
agora esguicha a terra
em ouro vivo
e o feno é empréstimo.
E aquilo é água?
Era água uma vez
Agora é madrepérola
Aquilo é um barco?
Foi um barco,
agora ergue-se um escuro pássaro
pela metade fora d’água.
Isto é a minha mão?

Foi uma mão
Agora é uma estranha
Planta branca.


II

A lua está no ar!
A auriargêntea lua.
Um copo é universo
cheio de um líquido prateado
Minha boca jaz à imagem.
Bebo. Bebo luz
O ar é luz.
Respiro luz.
Lá bate asagigante.
sobre minha cabeça bandonuvem
Quem antes do ouvir
e não do ver nasce?
Qual fogo da luz
não veio a meu semblante?
Luz nasce em minhalma
Mal ouvia ainda o pato,
seu gracitar no charco.
Não sabia nem quem nem onde eu era.
Meu peito lento e rápido se abria
Então morri, mas logo outra vez vivia.
Theo van Doesburg: o multiartista holandês (II)

Por André Dick

Como afirma Haroldo de Campos, em “Theo van Doesburg e a nova poesia”, já referido:

van doesburg pertence à categoria dos poetas-pintores (kurt schwitters, kandinsky, klee, raoul husmann, hans arp), identificável principalmente na moderna literatura de língua alemã, cuja obra, embora, em certos casos, circunstancial e “bissexta”, está mais próxima do sentido criativo de uma nova poesia, por suas características de desnudamento formal, do que a maioria dos profissionais do verso, peritos-provadores do alambique lírico ou sombrios oficiantes de cinzentas metafísicas, que, malgrado o lance de dados mallarmaico (1897), continuaram e continuam aguando a tradição poética viva.


Prossegue Haroldo:

mas não só. van doesburg foi um dos que mais conscientemente, entre esses experimentalistas, colocou o problema de uma nova forma poética. não ficou nas soluções do tipo kandinsky/arp: uma espécie de abstracionismo temático; transposição, em termos de conceitos verbais, dos efeitos visuais da arte não figurativa, o que incluía um princípio de organização ainda discurso, não muito diferente da escrita automática.

O autor de Xadrez de estrelas considera que o multiartista “não se deteve apenas numa revolução temática, conteudística, que só até certo ponto e taticamente corresponderia a uma nova visão do poema. enfrentou o poema como um problema de relações e procurou resolvê-lo com seu material específico – a palavra – sem apelo a qualquer retórica, ainda que de conteúdos abstratos”.
Suas palestras e performances serviram para intensificar a tendência idealista entre os mestres da famosa escola alemã de desenho industrial, a Bauhaus, onde Van Doesburg chegou a lecionar, internacionalizando, de fato, o movimento.


Em 1925, rompeu com Modrian, que entrou em conflito com Van Doesburg no campo teórico. Mondrian rechaçou a utilização de linhas diagonais que Van Doesburg passou a fazer, já que as linhas verticais e horizontais eram a estrutura da teoria neoplástica.
Em 1928, a revista De Stijl teve seu fim decretado, embora muitos apontem que o movimento só se interrompeu com a morte de Van Doesburg (em 1931).
Em 1930, Van Doesburg e outros consideraram que a “pintura abstrata” começasse a se chamar “pintura concreta”, e, como destaca Mel Gooding, em Arte abstrata, “a obra de arte fosse uma entidade autorreferente baseada em regras, ‘inteiramente concebida e formada pela mente antes de sua execução’ com ‘absoluta clareza’ e controle; em resumo, um modelo de realidade”, o que remete ao artigo polêmico de Haroldo de Campos sobre a poesia com intuito matemático – que ocasionou o rompimento de Ferreira Gullar, no Rio de Janeiro, que fundaria o movimento neoconcreto.
Haroldo analisa o poema “VOORBIJTREKKENDE TROEP”:

seu livro “soldatenverzen” (1916 – “versos de soldado”) compõe-se de uma série de poemas com duas, três ou quatro palavras apenas. o “exhibit” que apresentamos (“woorbijtrekkende troep” – “tropa em desfile”) evidencia este sentido de estrutura rigorosamente econômica, sem intromissão de qualquer resíduo discursivo ou arabesco metafórico, procurando criar, com elementos exclusivamente gráfico-sonoros, uma onomatopeia-ideograma de uma tropa em movimento. Não nos iluda o vocabulário militar, próprio da época (1ª guerra mundial – em 1914 van doesburg fora convocado), encontradiço também em caligramas de apollinaire ou nas “parole in libertà” de marinetti e seu grupo. no “tropa em desfile” não há nenhuma intenção de arranjo pictográfico exterior, como, p. ex., na metralhadora e na bota do “2e. cannonier conducteur”, poema publicado por apollinaire mais ou menos à mesma época (1915); tampouco a figuração por assim dizer “imitativa” da velocidade que ocorre no “après la marne, joffre visite le front em auto” (1919), de marinetti, caos verbal “parolibrista”, frenético malabarismo tipográfico desprovido de qualquer vontade construtiva. no poema de van doesburg, a noção de organização rígida está sempre presente:



pode-se dizer que, descartada a temática circunstancial, já há uma antevisão de um problema concreto de composição. a invasão do bloco verbal pelo branco da página é calculada de maneira a criar um movimento intrínseco, não “figurado”, mas resultante do jogo de fatores de proximidade e semelhança. Os cortes em “ransel” e “ruischen”, isolando e repetindo no campo visual elementos idênticos de modo a produzir uma espécie de sístole-diástole rítmica (abrir e fechar de espaço); a minimização da estrutura de “ruischen” a “r”, resolvendo com um desfecho-silêncio (não um “finale enfático”) a andadura da peça, o que lembra certas estruturas análogas da música moderna (webern, p. ex.); a exploração consciente das semelhanças de letras (h / n, e / c,), impondo um sentido de ordem às desarticulações do segmento ruischen e contribuindo para a dinâmica desejada; todos esses recursos (para não falar no uso até certo ponto interessante, embora discutível, pela mensagem de arbitrariedade, de negritos e grifos, intercâmbios de caixa alta e baixa, com função de tônicas-focos para uma leitura-partitura-oral-visual) dão um nível de interesse extremamente atual às pesquisas de theo van doesburg, que parece ter trazido para sua poesia a disciplina neoplástica do movimento “de stijl” – dique à anarquia dadaísta/futurista; convite a uma poesia nova e construtiva.

Interessante destacar que Ran sel significa mochila, tendo um verbo semelhante (“ranselen”), que seria “bater, machucar”. “BLik-ken – trommel” significa “tambor enlatado”, sendo que apenas BLik, destacado em alguns versos, significa olhar – revelando a marcha para a guerra.

Ran sel
Ran sel
Ran sel
Ran - sel
Ran - sel
Ran - sel
Ran – sel
Ran - sel
BLik - ken – trommel
BLik - ken - trommel
BLik - ken - TRommel
RANSEL
BLikken trommel
BLikken trommel
BLikken trommel
RANSEL
Blikken trommel
Blikken trommel
Blikken trommel
RANSEL
BLikkentrommel
Blikken trommel
Ransel
Blikken trommel
Ransel
Blikken trommel
RAN
Rui schen
Rui schen
Rui schen
Rui schen
Ruischen
Ruisch...
Ruisc...
Ruis...
Rui...
Ru...
Ru...
R...
R...


É interessante, como observa Haroldo, que o aspecto visual em Van Doesburg é mais construtivo do que em Apollinaire e em Marinetti. Outro poema que dialoga diretamente com “Gotas de sangue”, de August Stramm, é “Oorlog” (“Guerra”), cuja tradução livre vem a seguir:

O céu caiu na terra em pedaços
E em nenhum lugar é uma flor
que vive intacta.
A terra cheira a sangue,
fora do céu que briga.
A ferida é imensa
e não cura.

O céu desfalece.
A razão mente rápida.
O homem está desaparecido.
Ele rompe com tudo.
O rugido dos animais nas ruas.
Eles cheiram a sangue.
Eles teimam consigo próprios.
Eles lançam seu focinho escuro
à terra rubra
e criam a si mesmos no céu
sangue e pólvora única.

Também temos o paralelístico “Obelia 1”:

Na minha mesa
é o céu
estrelado e branco
lilás-azul
Na minha mesa com as tintas
Há um pedaço sujo de corda
Que é o céu
profundo
que é o céu
tão alto
que é o céu
em torno
em torno
em torno
que é o céu
azul

O que as estrelas são
branco
branco
branco
Este é o céu
Este
Este
Este

Vejamos, no próximo tópico, o poema “Mundo infantil”, incluído na ótima antologia Uma migalha na saia do universo: antologia da poesia neerlandesa do século vinte (Seleção e introdução de Gerrit Komrij e tradução de Fernando Venâncio), cuja disposição é inovadora, além da própria repetição de imagens (que remetem um pouco à poesia russa moderna).
“Mundo infantil”, poema de Theo van Doesburg



Mesinha,                                O CHÃO                             cheio de areia

Cadeirinha,                                                                        todo um

Toalhinha                                Ganso                               deserto

Estendida.                               De algodão                      num país oriental.

Florzinhas                                asinhas                            Um urso

Murchas                                  encarnadas                      amarelo-hirsuto

E maltratadas.                        Amarelas                          está olhando

Fita branca                              verdes                              está olhando

Atada                                       rodinha                             está olhando

Em volta duma jarrinha.          Rodinha                           com olhinhos

Zonazinhas amarelas               rodinha                           de coral preto

Manchazinhas brancas.           rodinha                            horrorosamente

Blocozinhos.                            Patas espalmadas            vesgos.

Tracinhos                                 cor-de-laranja forte  

Escaninhos                              rabinho                               Caixa de charutos

Belindrezinhos.                      De franja multicor              Aberta!

Belindrezinhos                       Pauzinhos                           Em tampa

Brancos                                  em losangos                       azul-céu

Cinzentos                              verdes berrantes

Castanhos                             e amarelos garridos.            “ODORA”

Feijõezinhos                         amossados.                         

Secos                                    redondos                                de fora

Manchados                          latinhas                                   de lado

E fendidos.                           Aos montes                             “ODORA”

Caixinhas                             Brocazinha.                              ARODO”

Amossadas.                         Pinçazinha.                               .
  
Papelinhos                                                                           de dentro

Machucados.                       CAIXA                                       repleta de areia

Outra vez um                       estrelas                                    Trejeitozinhos
   
Sahara                                 numa noite de verão.               Chorar.           

Cintilações                                                                            Lágrimas.

De terra.                             Saltaricar.                                  Lágrimas.

                                           Passaritar.                                  Fitar.

Medroso                             A pé-coxinho                             Fitar.

Cauteloso                           Virar.                                          Cansado.

Extremamente                    Devagar                                     Cansado.

Tento                                   mover.                                       Cansado.

Balanceia                            Curvar-se.                                 Olhos azuis                        

A criancinha                        Oscilar                                      fechadinhos

Dum lado pra outro            Cada movimento                      Dormir

                                             Gracioso                                     Dormir

Medroso                             delicado

Cauteloso                           em redor                                     Mãos grosseiras

Em equilíbrio                      de linha perpendicular.           Almofadas brancas

Alva                                     Saiazinhas                                 Paredes de alcova

Ouro                                    roçando                                     Dormir.

Cor-de-rosa e branca         pontilhando                             Dormir.

Cara.                                   Girando                                       Sonhar.

Olhos enormes                  Ballet de palmo e meio             Países.

Azul-celestes.                    Dançarina miniatura                 Países.

Perfume de flores              em pantonima.                          Luzes.

Misturado com                                                                      Cores.

Orvalho.                             Rir.                                              Ursos hirsutos.

Faixazinha preta                Covinhas.                                  Flores

Pontinho preto.                  Beicinho.                                   Aromas...

Cintilantes.

Trabalhos de Theo van Doesburg


Capa da Revista Mecano, 1923


Composition XIV



Stained-Glass Composition IV



Contracomposition XV


Cinema-restaurante LAubette (1927)


The cardplayers


Composition II (Still life)


Página de O espantalho, com Kurt Schwitters


Páginas de O espantalho


Stained-glass window. Leaded glass




De Stijl


Manifesto da Arte Concreta

Veja ainda:

Imagens de exposição sobre Theo van Doesburg