Traduções de Arthur Rimbaud
Por André Dick
Sensation
Par les soirs bleus d’été, j’irai dans les sentiers,
Picoté par les blés, fouler l’herbe menue:
Rêveur, j’en sentirai la fraîcheur à mes pieds.
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.
Je ne parlerai pas, je ne penserai rien,
Mais l’amour infini me montera dans l’âme;
Et j’irai loin, bien loin, comme un bohémien,
Par la Nature, heureux – comme avec une femme.
Mars 1870
Sensação
Nas tardes de verão, irei pelo caminho,
Pelo trigo, sobre a grama miúda:
Um frescor aos meus pés, sozinho,
E o vento a banhar minha cabeça desnuda.
Sigo em silêncio, não pensando em nada:
Meu amor procura em minha alma abrigo,
Boêmio, irei longe, muito longe, pela estrada,
Alegre – como se levasse uma mulher comigo.
Março, 1870
L’éternité
Elle est retrouvée.
Quoi? – L’Éternité.
C’est la mer allée
Avec le soleil.
Âme sentinelle,
Murmurons l’aveu
De la nuit si nulle
Et du jour en feu.
Des humains suffrages,
Des communs élans,
Là tu te dégages
Et voles selon.
Puisque de vous seules,
Braises de satin,
Le Devoir s’exale
Sans qu’on dise: enfin.
Là pas d’espérance,
Nul orietur.
Science avec patience,
Le supplice est sûr.
Elle est retrouvée.
Quoi? – L’Éternité.
C’est la mer allée
Avec le soleil.
Mai 1872
A eternidade
Ela está retrovada.
Quem? – A eternidade.
O mar some na calada
Com o sol que parte.
Alma sentinela,
Murmura seu chamado
De uma noite nula
De um dia queimado.
Dos atos humanos,
Impulsos de coração,
Você se livra de enganos
Voando então.
Pois apenas delas,
Brasas de cetim,
O Dever se exala
E não diz: enfim.
Lá não há esperança
E não há destino.
Ciência e paciência,
O suplício é vizinho.
Ela está retrovada.
Quem? – A eternidade.
O mar some na calada
Com o sol que parte.
Maio, 1872
Au Cabaret-Vert
cinq heures du soir
Depuis huit jours, j’avais déchiré mes bottines
Aux cailloux des chemins. J’entrais à Charleroi.
− Au Cabaret-Vert: je demandai des tartines
De beurre et du jambon qui fût à moitié froid.
Bienheureux, j’allongeai les jambes sous la table
Verte: je contemplai les sujets très naïfs
De la tapisserie. − Et ce fut adorable,
Quand la fille aux tétons énormes, aux yeux vifs,
− Celle-là, ce n’est pas un baiser qui l’épeure! −
Rieuse, m’apporta des tartines de beurre,
Du jambon tiède, dans un plat colorié,
Du jambon rose et blanc parfumé d'une gousse
D’ail, − et m'emplit la chope immense, avec sa mousse
Que dorait un rayon de soleil arriéré.
Octobre 70
No Cabaré Verde
às cinco horas da tarde
Oito dias depois, minhas botinas rasgadas
Pelas pedras do caminho: em Charleroi, entrei
– No cabaré verde: peço torradas
Com manteiga e presunto, feito um rei.
Descansado, jogo as pernas sobre a mesa
Verde: contemplo os traços mais ingênuos
De uma tapeçaria. – E, grande surpresa,
Uma garota de seios grandes, olhos plenos
– Não será um beijo que a deixe menos meiga! –
Sorridente, me traz torradas de manteiga
Com presunto, num prato colorido.
O presunto é rosa e branco, perfume de dente-
de-alho. Me dê um chope, com seu sabor excelente
Que doura um raio de sol ferido.
Outubro, 1870
Ma bohème (Fantaisie)
Je m’en allais, les poings dans mes poches crevées;
Mon paletot aussi devenait idéal;
J’allais sous le ciel, Muse ! et j'étais ton féal;
Oh! là là! que d’amours splendides j’ai rêvées!
Mon unique culotte avait un large trou.
– Petit-Poucet rêveur, j'égrenais dans ma course
Des rimes. Mon auberge était à la Grande Ourse.
– Mes étoiles au ciel avaient un doux frou-frou
Et je les écoutais, assis au bord des routes,
Ces bons soirs de septembre où je sentais des gouttes
De rosée à mon front, comme un vin de vigueur;
Où, rimant au milieu des ombres fantastiques,
Comme des lyres, je tirais les élastiques
De mes souliers blessés, un pied près de mon coeur!
Minha boêmia (Fantasia)
Já me ia, com as mãos no bolso sem costura
Meu paletó assim ficava ideal
Sob o ceú, musa!, eu fui seu amigo principal
Oh! Que coisa! Sonhando amores com bravura!
O meu único par de calças tinha um furo
– Pequeno polegar de rimas ao redor.
Meu albergue fica na Ursa-Maior
– Meus astros no céu rangem murmúrios.
Sentado, eu os ouvia, à beira das rotas
Em noites de setembro, nas quais senti as gotas
Da rosa à minha frente, como o vinho da razão.
Onde, rimando em meio a paisagens fantásticas
Eu tomava, como dos lírios, as botinas elásticas
Dos sapatos feridos, um pé preso no meu coração!
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
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